Oncologista
HPA Magazine 18
Apesar de ser um tumor relativamente raro – representa 5 a 10% dos cancros cutâneos – o melanoma é o mais letal, sendo responsável por cerca de 80% das mortes por cancro cutâneo.
Por ter origem nas células responsáveis pela produção da melanina – os melanócitos – este tumor maligno apresenta-se quase sempre com uma cor castanho escura ou mesmo negra.
No início da doença, habitualmente não apresenta sintomas; poderão ocorrer algumas alterações morfológicas ao nível dos sinais (nevos) suspeitos, nomeadamente o seu aumento, alteração da cor, assimetria dos bordos, ulceração ou sangramento.
O Melanoma pode atingir qualquer grupo etário, sendo relativamente frequente em adultos jovens (<35anos). O risco de desenvolver melanoma é sobreponível nos dois sexos, com maior prevalência na raça caucasiana.
Na mulher o melanoma localiza-se preferencialmente nos membros inferiores e no homem a localização habitual é o tronco, embora possa ocorrer em qualquer parte do corpo.
As pessoas de pele clara, sardentas, ruivas ou louras, de olhos claros, nevos atípicos, com história de exposição solar intensa e intermitente, de “escaldões”, sobretudo na infância, têm um maior risco de desenvolver este tipo de cancro.
A cirurgia é o tratamento de eleição do melanoma em fase inicial - estádios I e II, com uma taxa de cura que ronda os 90%.
Contudo, os melanomas são considerados de alto risco, quando o seu diagnóstico é realizado no estádio III. No estádio IV existe metastização sistémica, sendo a sua abordagem terapêutica distinta e mais complexa.
Faça do sol um aliado. Não se perca por ele
Na época balnear, nunca é demais chamar nunca é demais lembra:
- Evite a exposição solar intensa e prolongada (escal¬dões) e sem proteção
- Use óculos escuros, protetor solar com fator superior a 30, uma camisa de preferência escura, chapéu de pala com proteção das orelhas
- Não se exponha ao sol entre as 12-16h
- Proteja especialmente as crianças, pois são mais sensíveis à radiação solar.
Tratamentos menos invasivos e mais eficazes
A partir de 2011, começaram a surgir novos fármacos, com diferentes mecanismos de ação, que demonstraram pela 1ª vez um aumento da sobrevivência global, em doentes com melanoma avançado. Foi o caso das terapêuticas dirigidas para os doentes com mutação no gene BRAF e da imunoterapia. Ao contrário da quimioterapia, a imunoterapia atua sobre o hospedeiro e não diretamente sobre o tumor, modulando as respostas imunológicas do organismo, de modo a que este consiga lutar de forma mais eficaz e duradoura contra o melanoma.
A imunoterapia e as terapêuticas alvo no tratamento do melanoma avançado levaram a um aumento de sobrevivência global e a respostas duradouras, transformando muitas vezes uma doença agressiva em doença crónica com poucos sintomas.
Atualmente em Portugal tratamos os nossos doentes com estes novos agentes (inibidores BRAF+ inibidores MEK e imunoterapia) e participamos em vários ensaios clínicos multicêntricos internacionais em melanoma avançado.
Os excelentes resultados atingidos com os tratamentos dirigidos e com a imunoterapia em melanoma avançado encorajaram à realização de novos ensaios clínicos, com os mesmos agentes, mas agora em contexto adjuvante após cirurgia nos melanomas de alto risco. Sabe-se que estes doentes em estádio III (IIIA-B-C-D) ao diagnóstico (doença loco-regional, com envolvimento dos gânglios linfáticos regionais) têm risco acrescido de recidiva local ou à distância após ressecção cirúrgica. A sobrevivência aos dez anos para este grupo de doentes varia bastante, consoante o grau de atingimento ganglionar: se micrometástase é de 30-70%, mas para os doentes com metástases ganglionares clinicamente evidentes não ultrapassa os 20-40%. Por esse motivo têm sido testadas com êxito, novas estratégias terapêuticas, em contexto adjuvante à cirurgia, de forma a evitar o aparecimento de metástases a distância e a melhorar a sobrevivência e qualidade de vida destes doentes.
Na verdade, estes ensaios foram positivos e entraram rapidamente na prática clínica em quase todos os países. Em Portugal receberam recente aprovação do Infarmed e já estão a ser utilizados nos nossos hospitais, o que é uma excelente notícia para os doentes portugueses e representa um marco importante na terapêutica do melanoma.
Deixo uma mensagem de esperança e otimismo a todos os portugueses e em especial aos nossos doentes com melanoma.
O advento da imunoterapia com inibidores de “checkpoint” e as terapêuticas dirigidas anti- BRAF, mudaram radicalmente a história natural do melanoma, destronando definitivamente a quimioterapia antineoplásica e demonstrando uma eficácia incomparável, em contexto metastático e também adjuvante, nos estádios III e mais recentemente IIB e IIC.
Temos ainda pela frente enormes desafios, mas vamos no bom caminho e a revolução vai continuar.
Todos os doentes com melanoma avançado devem ser encorajados a participar em ensaios clínicos com novos fármacos.